MORTE

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MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

                         “Quem sabe se o viver seja o morrer e o morrer, contrário, viver?”                                                                                                                                                Platão

A tragédia que arrancou Eduardo Campos do cenário político e chocou a Nação Brasileira, surpreendendo e causando tristeza, nos obriga a refletir sobre o destino e a esquadrinhar a História procurando saber porque a morte ceifa tantas vidas jovens e promissoras. Santo Agostinho, na sua sabedoria, deixou-nos na “Cidade de Deus” uma resposta:

“Do mesmo modo que depende de Deus afligir e consolar os homens, também Dele depende a duração da vida que abrevia e prolonga segundo a Sua vontade”. A concepção deísta de Agostinho não alcança a crença na vida após a morte, como na religião egípcia, que no Livro dos Mortos trazia um código moral e espiritual com o qual se julgava a vida humana. Entre os antigos egípcios imaginava-se que o morto seria julgado no tribunal do deus Osíris.

Lá, o coração era pesado e, de acordo com o comportamento na vida, proferia-se uma sentença: Para os bons havia uma espécie de paraíso, para os negativos, Ammut devoraria o coração. Os cristãos e os pagãos se completam. Segundo os primeiros, a existência de Campos foi abreviada pelo arbítrio divino; e para os outros, será julgado post-mortem e certamente o peso do seu coração o levará ao paraíso…

A morte prematura é sempre contristável. Como no caso de pais que perdem filhos, invertendo o curso normal do viver humano. E assim ocorreu no caso de Campos, cujo protagonismo na campanha eleitoral o aproximou dos defensores da mudança que a inteligência brasileira exige.

Será enfadonho repetir o seu perfil, profusamente publicado pelos jornais e revistas. Sua vida pessoal e sua carreira política encontram-se nos abundantes comentários de colunistas e declarações múltiplas de políticos, sinceras ou hipócritas.

O julgamento de Eduardo Campos está sendo feito. Entre os brasileiros, avaliando o seu peso na História da política nacional, leva-se em conta a observação das críticas dele aos desvios do governo Dilma com alinhamentos ideológicos abastardados, incompetência e pouca clareza nas contas públicas.

Pronunciamentos arquivados de Campos mostram sua mira atirando nos erros mais óbvios do governo Dilma, principalmente na descontinuidade de programas, o menosprezo pelas agências reguladoras e no desrespeito à Justiça.

Apesar da pouca exibição na mídia, o falecido presidenciável mostrou uma posição favorável à autonomia do Banco Central e na defesa do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social, este, sem custear juros das linhas de crédito a longo prazo.

Nas suas entrevistas, pela inegável formação democrática, manifestou-se como defensor da liberdade de imprensa e da livre expressão do pensamento, coerente com a Constituição que os lulo-petistas querem rasgar através do golpe embutido no decreto fascista 8243. Aliás, Campos pregava contra a ‘velha política’ execrando Sarney, Collor e Renan.

Pelas posições assumidas, o eminente desaparecido deverá ser avaliado com imparcialidade, independente do PSB, partido que presidia e que o indicou como candidato à Presidência da República. Também vale separá-lo das composições alinhavadas para a campanha eleitoral, lembrando a participação conseqüente do oposicionista PPS.

Sem mais acrescentar, limitado ao espaço gutemberguiano sem adjetivação atributiva, é importante lembrar a Família deixada por Eduardo Campos, exemplo de coesão e harmonia; inviolável base da sociedade que o sistema que ele combateu quer destruir.

Para os seus parentes e amigos, fica a lembrança de Vladimir Nabokov: “Nossa existência não é mais que um curto circuito de luz entre duas eternidades de escuridão”.

12 respostas para MORTE

  1. Ajuricaba disse:

    abstraindo o político, fiquei muito abatido com a morte do home, da forma como aconteceu e das consequências para a família

  2. Paulo de Freitas disse:

    Nas sombras, ao lado do caminho luminoso deixado pela passagem de Eduardo Campos, como se em “Macbeth” fôra personagem das tramas Shakespeareanas, vaga e se reveste de energias o espectro de Marina aguardando o momento mais adequado para se materializar e protagonizar a tragédia brasileira, já tão anunciada.

  3. Izidoro De Castro disse:

    Parabéns Miranda Sá, mesmo discordando do comportamento humano que, movido pela dor da perda, propriedade intrínseca da esposa e dos filhos, “inocentemente” cristianiza Eduardo Campos. Mas reconheço que escreveste melhor do que eu.

  4. jurema disse:

    Mais uma esperança de renovação q se vai !!!!!!!

  5. shamijacobus disse:

    um comuna morto.VÃO EMBALSAMÁ-LO(se possível fosse) e fazerem um MAUSOLÉU ?

  6. Caro, amigo

    O mais terrível na Política Brasileira é que nada aprendemos com a morte e menos ainda com a “vida” de um jovem e renovado valor.
    Mas creio, que apenas pelo fato de uma luz luzir, já torna menos tenebrosa a escuridão em que vivemos.

    Meus respeitos a Eduardo Campos, de quem não seria eleitor.

  7. Josué Reis Dantas disse:

    parabéns Miranda pelos momentos reflexão obrigado!

  8. Estou muito emocionada, é muito marcante e verdadeiro, nos ponhe a pensar, que a morte supera e foge as regras do tempo e espaço, e nos pega de surpresa, mesmo sendo portadores de enfermidade degenerativas, e cujo cuidador se vai, a morte é uma revolução, que mesmo, quem diz, que não a teme, sempre sente receio, é um enigma, que vemos diariamente, mas, na hora nos choca e deixa perplexo. Mas, este ocorrido, não tem lógica, não vejo, resposta que justifique, e acho que ninguém descobrirá, já ocorreu com vários políticos, e no momento em que se destacava, se sabia, que a aeronave, estava com problema, o piloto, ou ele, exigirem uma revisão, não dá para acreditar, é tudo misterioso, justo dia 13 de agosto, quando o avô faleceu, é muita coincidência, é sobre natural, e a maneira trágica, algo monstruoso, foi como uma bomba, espedaçou e estraçalhou os corpos, que foi, quase impossível de identificar, ele deveria vir muito acelerado e descontrolado, e mesmo, assim, deve ser investigado e não ficar, que a morte pegou de surpresa e precoce, bem dizer se desintegrou, não deve ser nada descartado, e como, que não tem o diálogo, gravado na torre dos controladores do aeroporto, como ocorre em plena cidade, se fosse em alto mar, ou em florestas de difícil acesso. Quero lhe parabenizar, amei, demonstrou muito sentimento, e respeito e sinceridade, todas que tenho lido tem sido esclarecedor, e de utilidade pública. Aconselho que leiam, e apreciem, será muito útil, e de enriquecimento filosófico e sentimental. Abraços.

  9. Parabens Miranda, todas suas palavras sao de muita coerência e verdades,

  10. Cadinho RoCo disse:

    Encaro esta publicação como oportuna homenagem póstuma ao Eduardo Campos, cuja memória entendo que será usada e abusada por gente com nenhum escrúpulo querendo colher de sua morte votos e não mais que votos. O Brasil está muito carente de dignidade e de posturas, como a trazida por esse texto, que nos remeta a reflexões mais profundas do nosso agir nesse mundo.
    Cadinho RoCo

  11. Respeito a dor da família e o desaparecimento de um ser humano. ( Por quem os Sinos dobram?) Por isso, e apenas por isso, estou triste. Nunca votaria nele!

  12. Perfeita sua crônica. Sou daquelas pessoas que não entende a morte, embora se saiba que começamos a envelhecer e morrer logo após o nascimento. Estranho. Não conhecia o trabalho do Eduardo Campos, talvez por ele ser do nordeste, e o nordeste é muito “distante” do sudeste, contudo, lamentei o seu desaparecimento tão breve, imaginei a dor da senhora mãe dele, não é natural um filho morrer antes da mãe. Não mesmo.
    Nunca me passou pela cabeça votar no candidato Eduardo Campos, de toda maneira não causou surpresa a comoção do povo do nordeste, bem como dos seus pares, políticos de todas as matizes, afinal como disse Machado de Assis, num conto: “Está morto: podemos elogiá-lo à vontade”.
    Hoje foi a missa de sétimo dia, do fundo do meu coração desejo paz à viúva e aos filhos e que ela tenha seu tempo de prantear e ter o luto adequado pela perda do seu parceiro. E que Deus lhe dê sabedoria e discernimento, afinal o Brasil é muito complexo, requer conhecimento e disposição, não precisamos de mais um amador a governar esse gigante. Que resista ao canto da sereia.