junho 23, 2016
Elizabeth Bishop
Uma arte
A arte da perda é fácil ter;
por tanta coisa cheia de intenção
de ser perdida não dá pra sofrer.
Perca algo todo dia. Perder
chaves aceite, junto com a aflição.
A arte da perda é fácil ter.
Treine perder muito sem se deter:
lugares, e nomes, a comichão
de viajar. Nada fará sofrer.
Perdi jóias da mamãe. E dizer
que perdi casas que amei de paixão.
A arte da perda é fácil ter.
Perdi duas cidades. E o prazer
de um continente na palma da mão.
Sinto falta mas não dá pra sofrer.
– Até perder você (a voz, o ser
que eu amo) não devia mentir. Não,
a arte da perda se pode ter
embora pareça (diga!) sofrer.
Saiba mais sobre Elizabeth Bishop aqui
Que prazer Miranda, ler Elizabeth e lembrar de quando a conheci bem no início dos anos 1970 acompanhando um amigo, artista plástico, que ia visitá-la. O apartamento que ela estava era num prédio quase em frente ao meu, na Prudente de Morais. Só sabia que seu nome era Elizabeth,americana,poeta. Conversei pouco, de arte em geral pois estava acompanhando o amigo. Só depois que morreu soube seu verdadeiro nome.Quase nada tenho dela, um livro, apenas. E a biografia da Lota.
Mais uma bela poesia!Porém continuo acreditando que não há morte em nenhum ponto do Universo, e que os os mortos são invisíveis mas não ausentes.
Perder bem materiais é simples difícil é perder um ente querido.