DOS SONHOS
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Reconhecido como um dos pilares da cultura mundial, o filósofo grego Aristóteles desenvolveu várias teses no campo do conhecimento da sua época; com ele, a Filosofia foi definida como “amor à sabedoria”, a Ciência das ciências.
Aristóteles considerou que o aprendizado da infância e juventude deveria se basear na imitação tendo como exemplo os adultos, somando-se à observação das coisas ao seu redor. Para ele, “nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos”.
Uma passagem curiosa do ensino aristotélico foi sua reprimenda aos escolásticos, dizendo que eles eram como aranhas, tecendo teias com fios que saíam das próprias cabeças sem consideração com a realidade.
Hoje, passados dois mil e quinhentos anos, os “especialistas em tudo” da informação televisiva fazem a mesma coisa, expandindo pela telinha da tevê conceitos extraídos dos interesses das empresas em que trabalham pouco ligando para a conjuntura.
São analistas da bolha em que vivem sem ter a mostram de ser independentes e adotar a razão de ser e de haver. Fogem do “sono da Razão que produz monstros”, que o pintor, gravador e filósofo Francisco Goya citou, referindo-se aos quadros que pintava retratando os horrores da guerra.
Do sono que produz monstros, apelamos para a interpretação dos sonhos de Freud, que os considerou produtos de perturbações que levam à realização onírica de desejos inconscientes.
Em confronto com esta visão freudiana, o crítico do politicamente correto, o filósofo esloveno Slavoj Zizek, concebeu críticas, dizendo que sonhar significa fantasiar para evitar o enfrentamento com o real, mesmo aceitando o princípio de que “o sonho é um exemplo privilegiado de um processo primário produzido pela diminuição das necessidades físicas e o desligamento do exterior”.
Esta dedução é uma das armas que a psicanálise freudiana ensina que para entender o inconsciente, para analisar os sentimentos, as emoções e mesmo os pensamentos íntimos de cada um; e nada melhor do que os sonhos para desvendar os seus significados.
Nossa modernidade encontrou no cinema diversas exposições sobre a perspectiva dos sonhos, como temos num dos filmes pioneiros do tema – “Spellbound” (Quando Fala o Coração) -, rodado sob a direção de Hitchcock em 1945. No seu roteiro, mostra a amnésia e o uso da psicanálise para estudar a guarda de um segredo. O famoso sonho no filme foi desenhado por Salvador Dalí, refletindo a influência do surrealismo.
O pastor da Igreja Batista no Alabama, imolado pela intolerância racista nos Estados Unidos, usou na sua retórica discursiva o sonho para defender a união e a coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro do seu país.
Os brasileiros também sonham em ver a Pátria quebrar as algemas das desilusões, da demagogia, das mentiras e das promessas vãs que a politicagem reinante imprime. Nós sonhamos em ampliar o protesto efetivo dos mais de 30% do eleitorado que votou em branco, anulou o voto ou se absteve de votar.
Isto surpreendeu o TSE, que vive na escuridão das abstratas interpretações pessoais dos seus componentes, sem reconhecer o desejo de libertação dos brasileiros que assistem os direitos constitucionais cederem lugar à formação ideológica dos juízes togados; e assim, para eles assistirem, levamos ao palco do pensamento o clássico dos clássicos, Hamlet, de Shakespeare:
“Morrer — dormir; dormir, talvez sonhar — eis o problema: pois os sonhos que vierem nesse sono de morte, uma vez livres deste invólucro mortal, fazem cismar. Esse é o motivo que prolonga a desdita desta vida”.
O Dramaturgo insiste, com o seu Macbeth que o sonho é o principal alimento no banquete da vida; e, da minha parte – e muitos pensam como eu –, diante da infame formação jurídica e política que temos, achamos que o sonho é uma doce sobremesa na mesa frugal da Esperança.
DA LITERATURA
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Teve e tem carradas de razão Émile Zola quando escreveu que “os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhes escapa”. Para quem interessa, Zola apresenta as credenciais de criador e representante mais expressivo da escola literária naturalista, cuja expressão está em sua obra “Germinal”.
O livro traz a visão humanista do socialismo, cujas ideias estavam disseminadas na classe operária da época e o influenciaram a descrever uma greve de mineiros explorados trabalhando de sol a sol e sofrendo a brutalidade dos capatazes.
Foi criticado e perseguido pelos ocupantes do poder político e econômico. Mais tarde, convicto da inocência do capitão Dreyfys, oficial do Exército Francês acusado de traição, mas na verdade sofrendo a perseguição antissemita reinante entre oficiais militares de alta patente.
Em 1898, Zola escreveu uma carta aberta ao presidente da República, Félix Faure, publicada na capa do jornal literário L’Aurore, levando à reabertura do processo que decidiu pela reabilitação do oficial.
Além da participação política que o levou ao exílio, Zola escreveu vários textos da Inglaterra, aonde se exilou, publicados em jornais literários, na defesa da literatura e dos escritores. Diante desta valorização da literatura, já reconhecida pelas antigas sociedades grega e romana, leva-nos a perguntar: – “O que vem a ser literatura?
A palavra tem origem latina, literatura,ae, de littera, “letra, significando a ação de traçar as letras, ou “arte de escrever”; é gramaticalmente encontrada em brasilês como substantivo feminino, indicando uso estético da linguagem escrita.
Na prática, esta experiência visa a produção de obras de ficção, fatos e anedotário históricos e de experiências vividas ou conhecidas do autor, e esse campo de atividade exige não somente a correção do idioma e o estilo, mas notadamente informações humanísticas e independente coordenação com a ciência, a filosofia e a política.
É aí que mora o perigo. Os ocupantes do poder, em qualquer regime, prezam pela ignorância do povo, e para isto procuram calar qualquer referencial enciclopédico aos letrados, para impedir a sua divulgação.
Como manifestação crítica, utilizando uma linguagem accessível às classes populares, a literatura é perseguida pelos poderosos. Vale chover no molhado falar sobre a Idade Média Católica, quando o Concílio de Trento, em 1564, criou Index Librorum Prohibitorum (índice dos livros proibidos).
Imaginem que esta política anticristã da hierarquia eclesial proibiu livros de Alexandre Dumas, Charles Darwin, Gustave Flaubert, Montesquieu, Renê Descartes e Thomas Hobbes. Falar da “Origem das Espécies” ou do “Espírito das Leis” foi considerado um pecado mortal…
No século passado assistiu-se a repetição desta barbárie no esplendor do totalitarismo fascista, nazista e stalinista, com Hitler assistindo a “Bücherverbrennung” (Queima de Livros), que levou à fogueira obras de Brecht, Erich Maria Remarque, Hemingway, Heine, Ibsen, Freud, Stefan Zweig e Thomas Mann… E não esquecer Alexander Soljenítsin, escritor e dramaturgo russo, perseguido porque denunciou com seu livro Arquipélago Gulag, os campos de concentração mantidos por Stálin.
Não podemos esquecer que é através da Literatura que se desenvolve a linguagem, expandindo o vocabulário e firmando a língua pátria através da escrita. Some-se a isto o conhecimento transformador; é a leitura que leva à reflexão sobre a realidade.
A Literatura é uma das ferramentas intelectuais que mais incentiva a crítica e promove a reflexões sobre as mudanças pessoais, sociais e políticas; envolve todo sentimento de transformação das coisas erradas na Administração Pública, na Justiça e nos Meios de Comunicação e Informação.
Com a Literatura recebemos imaginação e criatividade que trazem novas ideias e enriquecem o nosso pensamento, mesmo assim assistimos no Brasil tentativas de censurar livros com argumentos que não calam Oscar Wilde que disse: – “Não existem livros morais ou imorais. Os livros são bem ou mal escritos”.
… E a iluminada herança de Rui Barbosa nos ensina: “A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade”.
DO JORNALISMO
MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)
“Às vezes, a única coisa verdadeira num jornal é a data” (Millôr)
Com uma breve História do Jornalismo, tento chegar ao que fazem hoje em dia os jornalistas mundo afora e particularmente no Brasil. Tenho credenciais para fazê-lo porque nos meus 91 anos exerço a feitura de jornais a mais de 70 anos….
Comecei criança com dez ou 11 anos, junto com a minha irmã Lúcia, já falecida, e com a ajuda da nossa mãe; fazíamos um jornalzinho manuscrito que circulava nos 48 apartamentos do edifício em que morávamos. Chamava-se “Folha da Glória”.
Depois editei periódico datilografado no colégio e, na escola técnica, por um mimeografo a álcool. Na faculdade, um avanço; usei o mimeógrafo elétrico…. Quando fui trabalhar em jornais, exerci a composição tipográfica e cheguei ao offset.
O jornal é um veículo de informação. Os manuscritos vêm de tempos muito antigos. Registra-se o primeiro no Ocidente criado por Júlio César (100 – 44 a.C), “Acta Diurna”, circulando 12 exemplares, distribuídos um a um para o Senado e para os governos provinciais.
Em 713 d.C., circulou em Pequim (China), um boletim intitulado Kayuan e mais tarde, também na China, circulava entre 713 e 734 já composto em tipos de madeira o Kaiyuan Za Bao (Boletim da Corte) da Dinastia Tang.
Os tipos chineses de madeira chegaram na Europa no século 15 do Calendário Gregoriano como uma “invenção” de Johann Gutenberg, moldados em chumbo e cobertos levemente de tinta, eram repassados numa prensa de madeira e impressos em papel.
Como anteriormente tudo era escrito à mão, exigia-se o trabalho de escribas caligráficos profissionais, levando uma enormidade de tempo. Na época, a maior biblioteca inglesa, da Universidade de Cambridge, possuía apenas 122 livros.
Pela técnica gutemberguiana de impressão foram editadas em menos de um mês cerca de cem bíblias com exemplares que ainda existem; um deles encontra-se na Biblioteca do Congresso em Washington.
Imagine-se a revolução abrangente que ocorreu. Iniciou-se uma nova realidade com os jornais de grande tiragem atendendo à economia, política e religião. Registra-se como primeiro jornal impresso o “Relation aller Fürnemmen und gedenckwürdigen Historien” editado por Johann Carolus, em 1605, circulando em Estrasburgo.
Daí em diante a imprensa escrita se firmou como um meio majestático da informação, mas entrou em decadência e a sua importância caiu devido às novas tecnologias, rádio, televisão e internet. Em virtude deste definhamento, o jornalismo ganhou novas formas de expressão.
Entre os atributos de atração da imprensa escrita pelo talento de jornalistas vocacionados, amadores e profissionais, tínhamos o jornalismo investigativo, que persiste em pequena escala nas ondas do rádio e praticamente inexistente na Televisão, salvo em alguns poucos programas.
A reportagem especializada não se limitava a desvendar crimes e fatos escabrosos, mas principalmente trazia à luz o que o poder político queria esconder. Os exemplos mais notáveis da investigação jornalística estão registrados com a publicação pelo jornal francês “L’Aurore” do “Acuso”, de Emile Zola, no século 19; e mais recentemente com o caso Watergate divulgado pelo Washington Post.
Hoje constatamos a derrocada dos jornais impressos que leva com isto a queda da qualidade do jornalismo tradicional, e perde a importância que possuía até o século passado.
… E quando o jornalismo foi levado para os veículos auditivos e visuais, perdeu a magia que atraía os antigos leitores. A leveza do texto e a confiança depositada no jornal foram trocadas pela linguagem direta do deboche, da galhofa e a conversão da veracidade do fato pelo sensacionalismo.
Na telinha, desapareceu a reportagem que descobria fatos ocultos e os levava ao conhecimento público. A principal rede de televisão brasileira, o Sistema Globo, tem somente uma meia dúzia de três ou quatro repórteres “amestrados”, para dezenas de “comentaristas” e “especialistas” que repetem dia e noite mesmices.
Os canais de televisão recebem polpudas verbas para omitir as falcatruas anteriores do presidente Lula e dependeram das sentenças do STF para informar sobre o anunciado, ensaiado e transparente golpe tramado pelo capitão Bolsonaro, filhos e milicos saudosistas da ditadura….
Assim, os “watergates” tupiniquins passam ao largo dos “analistas globais” e é impensável encontra-los nas demais emissoras, aparecendo apenas de viés algumas observações “à moda americana”, pela CNN…
Diante disto, dá vontade de parodiar François Guizot dizendo que “quando o varejo da politicagem chega às redações, o jornalismo vai para a sala da publicidade e a seguir vai à contabilidade…
DO ESCAPISMO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
A genialidade do dramaturgo, poeta e filósofo alemão Bertolt Brecht, estrela ofuscante da arte teatral no século 20, condenou o “Escapismo”, lembrando “que continuando a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem “.
Brecht deu como exemplo o “analfabeto político”, a pessoa que não ouve, não fala, nem acompanha as ações de governo; – “Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas”, escreveu.
Como verbete dicionarizado, “Escapismo” é um substantivo masculino, significando a tendência de se afastar de situações ruins considerando-se incapaz de resolve-las; é a fuga da realidade ou do cotidiano por meio da abstração, da fantasia. Vem do inglês, “escapism” que no brasilês se formou com escapar + ismo.
Alguns estudiosos atribuem esta palavra ao célebre mágico Harry Houdini, famoso pelo ilusionismo como a arte de escapar de prisões consideradas intransponíveis. Por isto, chamavam-no “escapologista”.
Daí o termo entrou para a cultura contemporânea, expressando-se notadamente na literatura pelo romantismo baseado em situações imaginárias de fuga de problemas aparentemente reais.
No cinema, encontramos a chamada ficção especulativa que traz à telona fantasias, terror e a atraente ficção científica. Especialistas dizem que isto expressa a excelência do “escapismo”.
Aliás, a cultura norte-americana é riquíssima em escapismo, que notadamente se difundiu após a “grande depressão” – a quebra do mercado de ações em 1929. Alan Brinkley, autor do badalado livro sobre este fato que abalou o mundo, “Culture and Politics in the Great Depression”, considera que historicamente foi o escapismo que ajudou o povo norte-americano a atenuar o medo da retração econômica, e escapar mentalmente da pobreza em massa surgida no país.
Assim se viu no jornalismo, nos filmes e matérias radiofônicas. O melhor exemplo é a revista Life, que se tornou popular pelas entrevistas otimistas, reportagens romantizadas sobre os esportes e belas fotos de jovens mulheres na praia. Tudo, menos pobreza e desemprego.
Os EUA escaparam da miséria pelo New Deal de Roosevelt, mas a tendência ao escapismo se revigorou após a Segunda Guerra Mundial e recentemente após o 11 de Setembro. Freud considerou uma dose de fantasia escapista como um elemento necessário na vida dos humanos: “Eles não podem prescindir da satisfação de extorquir da realidade”.
Infelizmente isto é obtido muitas vezes pelo uso de drogas, perversões sexuais e tendência suicida. Constatamos tristemente que isto vem ocorrendo entre nós. Fugir à realidade é rotina e pensamento que grassa entre os mais jovens como motivo para se livrar das decepções e emoções desagradáveis.
A violência reinante social e politicamente, provoca a deserção para se salvar do caldeirão onde ferve a corrupção parlamentar, judicial e dos governos populistas demagógicos que se alternam pela satânica polarização eleitoral.
Não quero que se estabeleça a sociedade dos “Elói” formada por indivíduos indiferentes ao seu entorno, como nos mostrou o filme “A Máquina do Tempo”, baseada no livro de H.G. Wells do mesmo nome; condeno com ardor o escapismo dos que não lutam contra o sistema estabelecido.
Não combater a corrupção, o desleixo na administração pública e a injustiça do “garantismo” do STF na conjuntura que atravessamos, como muitos fazem por conveniência pessoal, covardia ou fanatismo partidário, torna-os cúmplices da maligna realidade criada pelos três poderes republicanos que se misturam diabolicamente.
Muitos desses evadidos da honestidade e do patriotismo estão anestesiados pela imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta, divulgadora do escapismo. A chamada “grande mídia” nos dá o exemplo mais do que perfeito disto, com a descarga de reportagens como vimos na copiosa cobertura televisiva do Rock in Rio….
Influenciam pessoas que, com apenas um ovo da geladeira, se deslocam para as portas dos hotéis e ver os astros impostos pela publicidade. Muito pior! Assim, sofrendo a lavagem cerebral do escapismo, a massa come nas mãos dos populistas polarizadores, esquecendo a carestia de vida, os altos preços dos remédios, sem Educação, sem Segurança e sem uma Justiça confiável.
Atentem: Não é por acaso que combatem as redes sociais e os seus usuários independentes, que mostram a realidade, que criticam, denunciam e reivindicam.
DA NATUREZA
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Numa conferência proferida na Universidade da Califórnia em 1959, Aldous Huxley, o extraordinário intelectual inglês, autor do “Admirável Mundo Novo”, me impressionou fortemente referindo-se à Natureza com três perguntas:
– “Qual a nossa relação com o Planeta? O que estamos fazendo com o mundo no qual vivemos e como estamos tratando esse mundo? Como ele provavelmente nos tratará se continuarmos tratando dessa maneira?”.
São passados 65 anos que esta preocupação foi levada aos pensadores norte-americanos e, como coletânea, editada no livro “A Situação Humana”, alcançou, se não me engano, 54 países de todos continentes.
A inquietação de Huxley com o manto da ansiedade tinha razão de ser pois já causava consideração e dedicação de estudiosos – ambientalistas do século 19 – fazendo pesquisas sobre a relação dos seres humanos com a Natureza.
Reconheceram que a vivência humana na Terra no curso da História, possivelmente há um milhão de anos, a presença do homem sempre foi força da mudança, para melhor e para pior. Registrou-se, então, que a ação humana condicionou o ambiente natural e este, por sua vez, transformou-se, adaptando-se às novas realidades.
O que a humanidade fez de melhor foi o intercâmbio campestre, faunístico e florestal de continente para continente, espalhando árvores frutíferas, gramíneas e tubérculos de uma região para outra, como, por exemplo, o trigo indiano chegou às Américas e a batata andina foi pra Europa…
Esta vivência alcançou os animais domésticos, o carneiro, o cavalo, cabras, galinhas e o gato que saíram do seu habitat original ocupando outros lugares como meio de locomoção e transporte de cargas, como alimento e de estimação.
O lado bom das atividades do homem foi este; o seu reverso está na ação destrutiva do meio ambiente como evidência “civilizatória”, derrubando árvores para fazer carvão e extinguindo várias espécies de animais, como o “pombo viajor” e o bisonte americano; crimes que alcançaram a predação oceânica e fluvial.
Estes episódios depredadores foram lamentáveis na conquista colonial europeia da África, Ásia e América, quando se viu a própria maldade do homem submetendo outro homem com a escravidão indígena e africana.
A barbárie “civilizada” contrastou com a cultura dos povos originários, aros, hauçás, iorubas, uangaras e zulus na África, e nas Américas, maias, astecas, incas, e os mais primitivos, tupis-guaranis brasileiros e peles vermelhas norte-americanos.
Entretanto estes povos mostravam – e os que sobrevivem mostram – a compreensão da defesa do meio ambiente, conservando as terras e os rios, e preservando os reinos animal e vegetal. O seu conhecimento da flora e da fauna era (e é) notável.
Digna de estudo científico é, também, a devastação do meio ambiente pela chamada revolução industrial que se estendeu e generalizou-se mundo afora. A humanidade, por ignorância ou ambição ou cobiça, não se sentiu ameaçada com a expansão acelerada das cidades; e aceitou acomodada os benefícios trazidos pelas descobertas tecnológicas.
A explosão demográfica exigiu mais concentrações urbanas e, consequentemente, mais produções industriais. Assim, o crescimento populacional acelerado na Ásia, África, América Latina e Caribe, exigiu dos governos mais assistência à Saúde e à Educação, coisa que é considerada secundária na política populista, surfando no clientelismo político e na propaganda dos mercenários meios de comunicação de massa.
O quadro que divisamos no Brasil apresenta uma cena de horror. Calou-se a maioria dos ambientalistas pelo abandono governamental da Amazônia, submetidos à distorcida ideologia lulopetista; como também se omitiram os “patriotas” de Bolsonaro. É inegável o desprezo dos dois governos populistas “de Direita” e “de Esquerda”.
Salvo umas e outras exceções, também silenciaram os defensores da Educação Pública não mais agitadores, mais militantes políticos alojados em cargos públicos ou mamando verbas de ONGs fajutas.
Enfim, depois do que se viu na pandemia da Covid, a Saúde Púbica dos populistas que ocuparam e ocupam o poder é um verdadeiro fracasso para o povão; assim como a odiosa exploração dos “planos de saúde” que atendem às classes médias.
Diante desta desgraceira eminente e próxima, a Natureza nos compensa com utilidades, mas nos castiga pelo desprezo dado pela falta de educação ambiental. É com a ajuda dela que denunciamos os mal feitos governamentais, até quando a ditadura judiciária nos permita.
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DO CÉREBRO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
A história do cérebro humano mostra que este órgão ficou gradualmente maior em relação ao tamanho do corpo, após a evolução dos primatas para os hominídeos e, finalmente, para o que nós somos hoje.
O caminho percorrido desde anteriores dois milhões de anos, progrediu a partir do Homo erectus, descoberto por Eugène Dubois em Java, na Indonésia, entre 1891 e 1892. Foi classificada como uma espécie asiática, embora tenham sido encontrados fósseis similares na África.
O Homo Erectus já caminhava de forma ereta (daí o seu nome); vivia em pequenos grupos familiares, usava ferramentas de pedra na caça e na coleta, e, provavelmente, dominou o fogo.
Progredindo na linha do tempo, esses ancestrais humanos tinham a capacidade de se comunicar, pois seu cérebro já funcionava comparável à dos humanos modernos; e as pesquisas científicas mostram o cérebro como o centro de controle do corpo, processando informações pelos sentidos, audição, olfato, paladar, tato e visão.
Como verbete dicionarizado, “Cérebro” é um substantivo masculino de etimologia latina “cerĕbru-idem”, órgão anatômico situado na parte anterior e superior do encéfalo, que assume as funções psíquicas, nervosas e a atividade intelectual.
O Cérebro é composto por dois hemisférios (esquerdo e direito) e cinco lobos cerebrais, ficando protegido pelo crânio, suspenso no líquido cefalorraquidiano e isolado da corrente sanguínea pela barreira hematoencefálica.
Atribui-se ao Cérebro a responsabilidade pela atividade natural e especial das emoções, da inteligência, comportamento, linguagem, memória, raciocínio e razão; recebe informações dos sentidos e as processa.
Com esta estrutura, o Cérebro é consequentemente responsável por transmitir os sinais de dor por todo o corpo, mas, em si, não sente dor, limitando-se a satisfazer movimentos corporais e dar pasto aos processos psíquicos que resultam na consciência individual.
É a consciência que leva a pessoa centrar-se na realidade em que vive, e escolher entre servidão ao pensamento dominante ou libertar-se das ilusões e superstições para alcançar a felicidade individual, como pregou Buda.
Como conceito filosófico, a consciência é uma qualidade psíquica, fundamento e modelo de todo o conhecimento, segundo Descartes e o seu truísmo: “penso, logo existo”.
Neste campo da mente e do pensamento humano, o Cérebro é fonte de estudos desde 1882, quando Freud, recém-formado, estudou no Hospital Geral de Viena com Theodor Meynert na clínica psiquiátrica; e, mais tarde, em 1885, com o médico francês Charcot, no Hospital Salpêtrière (Paris, França).
Então surgiu a Psicanálise como método científico descobrindo que os processos psíquicos passam e ficam arquivados de modo inconsciente e assim a Psicologia penetrou na “mitologia do cérebro”, revolvendo a vida psíquica pela análise deste mecanismo.
Todos estamos protagonizando as condições gerais da consciência, por isto, não foi por acaso que Freud escreveu que a humanidade em todo o seu conjunto, era paciente sua. E como pacientes, deitados no divã da curiosidade, estamos nós, conscientes, não integrando a base da massa predisposta ideologicamente à servidão política do culto às personalidades.
Produtos das relações sociais e das suas contradições, somos realmente conscientes das nossas aspirações, coerentemente defensores da liberdade, comportando-nos condizentes na luta contra o oportunismo político e o obscurantismo religioso.
São execráveis a direita reacionária bolsonarista e a enfermiça esquerda lulista, ambas assumindo a ideologia distorcida do populismo.
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DAS FANTASIAS
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Um cristão autêntico que se destaca pela honestidade nas redes sociais, diferente dos oportunistas fraudulentos que se fingem de “religiosos”, comentou o meu artigo DO DILÚVIO, com uma leve crítica; para ele, não importam as fantasias bíblicas, aceita-as por uma questão de fé.
Com todo respeito, respondi-lhe lembrando a minha avó Zulma que tinha os joelhos calejados por ao pé de uma imagem da Santa Terezinha horas seguidas, demonstrando uma imensa fé na estátua de gesso.
Não quis ofendê-lo, pelo contrário, quis mostrar que as questões de fé vêm de tempos muito remotos, na origem das concepções religiosas, com os nossos ancestrais primitivos se relacionando estreitamente com a Natureza e os seus fenômenos.
Como sabemos, as crenças e práticas nunca são de um só homem, mas coletivas de uma sociedade. A Antropologia registra que os primeiros humanos se sociabilizaram; nunca caçaram ou colheram sozinhos, de maneira que o medo e a fé em objetos defensivos ou para “dar sorte” sempre foram comunitários. Assim constatou Freud no seu livro com os “Totens e Tabus”.
A escuridão noturna e os fenômenos fisiológicos do sono e dos sonhos inquietaram e exigiram uma explicação satisfatória; a explicação veio do matemático, escritor, filósofo e teólogo francês, Blaise Pascal, concebendo que tais preocupações levaram à invenção da alma.
Assim temos o Animismo, a “religião de fraldas”, nas tribos primitivas, limitando-se ideologicamente ao baixo desenvolvimento produtivo, que deu mais força às relações entre as pessoas e mais estreitas e ajustadas com a Natureza reinante.
A partir daí, a História mostra que paralelamente às manifestações religiosas surgiu a sua exploração comercial com a venda de artefatos, objetos de arte, monumentos funerários e imagens de barro ou madeira figurando deuses. Criou-se assim a indústria da idolatria.
Daí em diante a arqueologia vem revelando que o sentimento religioso tomou a direção subjetiva da transferência da divindade incorpórea e inatingível para os monumentos e as inscrições petróglifas (mais tarde pergaminhos e livros) atribuindo a estes um poder mágico aos fetiches.
O avanço civilizatório trouxe uma nova percepção na antiga Grécia nos anos 400 a.C., quando o filósofo e matemático Pitágoras imaginou e pregou a conexão e a união entre a alma individual e a alma divina, com a crença de uma “alma abrangente” de humanos, animais e até de objetos.
Assiste-se a partir de então a evolução vinda desde o primeiro estágio religioso da humanidade até a crença da alma, herança deixada pelos avoengos da cultura ocidental.
No Ocidente, porém, sofremos um processo regressivo da idolatria quando o cristianismo se tornou a religião imperial e a Igreja Católica Romana para atrair devotos, usou ídolos, inclusive apresentando a deusa Isis como se fosse Maria, mãe de Jesus, coroada como “rainha do céu”.
Constata-se mesmo assim que muitas pessoas já não se ajoelham diante de ídolos e imagens colocadas para serem venerados no lugar de Deus e dos santos. A imaterialidade da alma, pregada por Pitágoras, depois aceita e desenvolvida por Spinoza, ensina que Deus e a Natureza são a mesma e única coisa.
Na velha Grécia de Platão e Sócrates, Pitágoras foi condenado ao exílio e teve os seus escritos queimados; e Spinoza foi punido pelas autoridades religiosas judaicas sendo repudiado socialmente. Estas penas exemplificam a intolerância reacionária.
Intolerância presente ainda hoje, em pleno século 21, surfando ultrapassada sobre a massa ignara, e ainda vemos ídolos cultuados em lugar de Deus; o pior, muito pior mesmo, é que essa adoração totêmica se sobrepôs ao religioso, chegando ao culto à personalidade de políticos, como vimos no século passado nos países totalitários e, infelizmente, se estendeu à realidade atual.
A fantasia grotesca dessa decadência intelectual, deixada por Hitler, Mussolini e Stálin, idolatrados pela estupidez dos seus seguidores, revive no Brasil com o fanatismo de baixo QI por Bolsonaro e Lula….
DA INDULGÊNCIA
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
Por sobrarem no porão do meu inconsciente estilhaços dos elétrons poéticos que bombearam poesia na minha juventude, dou um imenso valor às palavras; e sigo o conselho de Carlos Drummond de Andrade: “Se procurar bem, você acaba encontrando não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida.
Então fui à UTI da Gramática, visitar a moribunda Indulgência, esquecida até pelos seus parentes próximos, Clemência, Tolerância e Perdão, que frequentam assiduamente o garantismo jurídico do STF…
Encontrei-a como verbete dicionarizado identificada como substantivo feminino de etimologia latina, “Indulgentĭa”, significando manifestar perdão aos erros cometidos pelos outros, indo das três ofensas individuais, calúnia, difamação e injúria até aos crimes hediondos.
A Indulgência é relacionada com a religião, como agente da Igreja Católica vestida de “Indulgência Plenária” para absolver todos os pecados cometidos, tanto em vida quanto na morte, por aquele que cumprir três condições sacramentais, confissão dos pecados; comunhão e orações pelas intenções do Papa.
Encontramos no campo do falso humanismo muita facilidade para perdoar os erros, incorreções, nada que corresponda à ética, a honestidade e a justiça. Da minha parte, recuso-me a ser indulgente com os juízes que não cumprem o seu dever de praticar a justiça boa e perfeita.
Não os perdoo pelas intrigas judiciárias, o favoritismo no julgamento e a politização das interpretações forenses, muitas vezes ilícitas, como a decisão monocrática do ministro Dias Toffoli perdoando as multas de empresários corruptos e corruptores condenados pela Lava Jato.
Não há perdão neste caso anteriormente condenado por Rui Barbosa que disse “O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde” e foi mais duro quando a covardia abrange todo tribunal, acusando-o: “A pior ditadura é a ditadura do poder judiciário. Contra ela não há a quem apelar!”
E é o que vem ocorrendo com os togados judicializando (ou legislando) segundo seus próprios interesses ao legalizar a participação advocatícia nepótica de parentes íntimos na Corte. Poderíamos correr o rosário dos malfeitos cometidos pelo STF, mas seria enfadonho e não aumentaria a minha punição pela crítica.
Prefiro contar uma historinha que li há tempos, mesmo sem lembrar o nome do autor que descreveu um passeio turístico em Paris, vagueando pelo Jardim de Luxemburgo cercado por prédios históricos que assistiram a Revolução Francesa e a Comuna, a decapitação e os fuzilamentos.
O Palácio da Justiça, ali situado, viveu nos dias de Terror os julgamentos do Tribunal Revolucionário e, defronte (atual Praça da Concórdia), erguia-se o palco onde a guilhotina era o principal protagonista na cena do sacrifício do rei Luiz 16, da rainha Maria Antonieta e cerca de 16.594 pessoas executadas entre junho de 1793 e julho de 1794.
Posteriormente, julgados pelo “Tribunal Revolucionário”, muitos dos revolucionários de primeira hora, como os jacobinos, incessantes denunciadores de oportunistas e corruptos; com eles subiram ao cadafalso os seus líderes, Robespierre, Saint-Just e Couthon….
Tal situação levou Georg Büchner a prescrever que “A revolução é como saturno, devora os seus próprios filhos”, alimento que mais tarde ocorreu na URSS após a morte de Lênin, quando Stálin condenou por “terrorismo trotskista” 14 dirigentes bolcheviques, entre eles Grigóri Zinoviev e Lev Kamenev.
E Hitler não deixou por menos, dirigiu pessoalmente o massacre dos oficiais das SSAA e Ernst Röhm, seu comandante, que exigiam transformações realmente socialistas na Alemanha. Röhm, oficial militar, foi um dos principais membros do Partido Nazista e amigo pessoal de Hitler.
Como vimos no turismo histórico sobre a Revolução Francesa em Paris, os tribunais de exceção passaram a atuar em todas as ditaduras para julgar opositores do regime. A América Latina assistiu em Cuba condenações ao “paredón” e atualmente na Nicarágua condena-se padres por sermões dominicais…
Na Venezuela, o ditador Maduro, ídolo do PT e amigo do presidente Lula da Silva, mantém o seu próprio tribunal para prender e fuzilar seus adversários. Ele merece Indulgência?
DO CÉREBRO
MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)
A história do cérebro humano mostra que este órgão é gradualmente maior em relação ao tamanho do corpo após a evolução dos primatas para os hominídeos e, finalmente, para o que nós somos hoje.
O caminho percorrido desde anteriores dois milhões de anos, progrediu a partir do Homo Erectus, descoberto por Eugène Dubois em Java, na Indonésia, entre 1891 e 1892. Foi classificada como uma espécie asiática, embora tenham sido encontrados fósseis similares na África.
O Homo Erectus já caminhava de forma ereta (daí o nome erectus); vivia em pequenos grupos familiares, usava ferramentas de pedra na caça e na coleta, e, provavelmente, dominou o fogo.
Progredindo na linha do tempo, esses ancestrais humanos tinham a capacidade de se comunicar, pois seu cérebro já funcionava comparável à dos humanos modernos; e as pesquisas científicas mostram o cérebro como o centro de controle do corpo, processando informações pelos sentidos, audição, olfato, paladar, tato e visão.
Como verbete dicionarizado, “Cérebro” é um substantivo masculino de etimologia latina “cerĕbru-idem”, órgão anatômico situado na parte anterior e superior do encéfalo, que assume as funções psíquicas, nervosas e a atividade intelectual.
O cérebro é composto por dois hemisférios (esquerdo e direito) e cinco lobos cerebrais, ficando protegido pelo crânio, suspenso no líquido cefalorraquidiano e isolado da corrente sanguínea pela barreira hematoencefálica.
Atribui-se ao cérebro a responsabilidade pela atividade natural e especial das emoções, da inteligência, comportamento, linguagem, memória, raciocínio e razão; recebe informações dos sentidos e as processa.
Com esta estrutura, o órgão é consequentemente responsável por transmitir os sinais de dor por todo o corpo, mas, em si, não sente dor, limitando-se a satisfazer movimentos corporais e dar pasto aos processos psíquicos que resultam na consciência individual.
É a consciência que leva a pessoa centrar-se na realidade em que vive, e escolher entre servidão ao pensamento dominante ou libertar-se das ilusões e superstições para alcançar a felicidade individual, como pregou Buda.
Como conceito filosófico, a consciência é uma qualidade psíquica, fundamento e modelo de todo o conhecimento, segundo Descartes e o seu truísmo: “penso, logo existo”.
Neste campo da mente e do pensamento humano, o Cérebro é fonte de estudos desde 1882, quando Freud, recém-formado, estudou no Hospital Geral de Viena com Theodor Meynert na clínica psiquiátrica; e, mais tarde, em 1885, com o médico francês Charcot, no Hospital Salpêtrière (Paris, França).
Então surgiu a Psicanálise como método científico descobrindo que os processos psíquicos passam e ficam arquivados de modo inconsciente e assim a Psicologia penetrou na “mitologia do cérebro”, revolvendo a vida psíquica através da análise deste mecanismo.
Todos estamos protagonizando as condições gerais da consciência, por isto, não foi por acaso que Freud escreveu que a humanidade, em todo o seu conjunto, era paciente sua. E como pacientes, deitados no divã da curiosidade, estamos nós, conscientes, não integrando a base da massa predisposta ideologicamente à servidão política do culto às personalidades.
Produtos das relações sociais e das suas contradições, somos realmente conscientes das nossas aspirações, coerentemente defensores da liberdade, comportando-nos condizente com a luta contra o oportunismo político e o obscurantismo religioso.
São execráveis a direita reacionária bolsonarista e a enfermiça esquerda lulista, ambas assumindo a ideologia distorcida do populismo.
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DOS LIVROS(2)
MIRANDA SÁ (Email: mirandsa@uol.com.br)
Não se pode falar de livros sem dar uma volta ao passado e lembrar a Biblioteca de Alexandria fundada no Império Macedônico. Conforme historiadores, foi uma iniciativa do “faraó” Ptolomeu 1º (366 a.C. – 283 a.C.), sucessor de Alexandre no governo egípcio e fundador da dinastia ptolomaica do Egito.
A Biblioteca fez parte de um extraordinário complexo cultural ao lado do primeiro museu da História (assim chamado em homenagem às Musas), um observatório astronômico e um jardim zoológico. Esse conjunto arquitetônico tornou Alexandria o centro intelectual de sua época, atraindo gente de todo mundo civilizado.
A universalidade cultural deu lugar a fervilhantes debates de caráter filosófico, político e religioso, num raro momento histórico de liberdade do pensamento. Talvez em razão disto, após servir por quase 600 anos, foi destruída entre os anos 250 a 270.
Segundo estudiosos da cultura helênica disseminada mundo afora, o incêndio maligno teria sido provocado por uma guerra ou pela intolerância religiosa, com diferentes versões sobre a responsabilidade do fato.
Uma das opiniões credita a Júlio César a destruição após o fim do triunvirato romano. Para impedir o confronto marítimo com Pompeu, teria incendiado os navios aportados em Alexandria, e o incêndio se estendeu alastrando-se até à Biblioteca.
Outra variante, mais forte do que esta, aponta como incendiário Anre ibne Alas, o sunita conquistador do Egito. Registra-se que ele teria seguido instruções do califa Omar que o orientou argumentando que “se os livros estiverem de acordo com o Alcorão, não precisamos deles; e se eles se opõem ao Alcorão, destrua-os”.
Bernard Lewis, autor do livro “O que deu errado no Oriente Médio” diz que a história é falsa e foi reforçada na Idade Média por Saladino, quando se tornou sultão do Egito; e, como chefe militar, enfrentou cruzados europeus no Levante.
Lewis subscreve que Saladino decidiu acabar com a coleção de textos ismaelitas heréticos do Califado Fatímida no Cairo, e alardeou a intervenção de Omar no caso da Biblioteca para dar aparência legal às suas medidas destrutivas.
Ambas interpretações são duvidosas porque as datas não correspondem ao calendário apresentado. Também provoca incredibilidade responsabilizar o cristianismo imperial romano afirmando quando o imperador romano Caracala incentivou o saque da cidade de Alexandria pelo seu exército, a Biblioteca teria sido invadida e incendiada por cristãos fanáticos que destruíram os livros que não estavam de acordo com sua fé.
Com relação aos livros, considera-se que mais importante para o mundo é a herança deixada pela Biblioteca de Alexandria, registrada na História da Humanidade como a primeira universidade do mundo; um modelo seguido até os dias atuais.
Verifica-se tristemente que a queima de livros ocorrida no Mundo Antigo com milhares de papiros e outras formas de transmitir informações científicas, históricas, filosóficas e religiosas, foi aproveitada pelos nazistas…….
Joseph Goebbels, ministro nazista da Propaganda, para alinhar as artes e a cultura alemãs com os objetivos nazistas, determinou em 1933 à Gestapo levar professores universitários, reitores e estudantes a participar da – “Bücherverbrennung” – Queima de Livros, e levar à fogueira obras de Bertolt Brecht, Erich Maria Remarque, Ernest Hemingway, Heinrich Heine, Henrik Ibsen, Karl Marx, Sigmund Freud, Stefan Zweig e Thomas Mann, entre outros que não lembro.
O Tribunal de Nuremberg condenou o fato a pedido dos promotores franceses e soviéticos, mas negou a prisão dos responsáveis pelo assassinato da Cultura…
Talvez por falta desta punição, vê-se tristemente nesses inícios do século 21 pessoas que desejam imitar os nazistas proibindo livros, punindo autores e imprimir a censura! Esses zumbis fascistóides não dão valor ao legado da Antiguidade que a Biblioteca de Alexandria nos deixou.
Para defender verdadeiramente a Democracia, seus auto-assumidos guardiães do STF não os condena, relativizando os ataques à literatura que assistimos. Deveriam conhecer o pensamento do escritor, dramaturgo e poeta Oscar Wilde que gravou: “Não existem livros morais ou imorais. Os livros são bem ou mal escritos”
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