Arquivo do mês: julho 2024

DOS SIGILOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Nos capítulos relativos ao Ocidente, a História da Civilização registra que os antigos gregos mediam o tempo pelas olimpíadas e, na velha Roma, pelos consulados; no Brasil atual, polarizado pelos populistas Bolsonaro e Lula, a fita métrica da História passa pelos sigilos destes dois vigaristas.

Um decretava sigilo a rodo para esconder as insanidades do seu governo; outro denunciou-o do palanque, mas ao assumir o governo adotou o sigilo para esconder o que mais preza: a corrupção, os corruptores e os corruptos.

Como verbete dicionarizado, o Sigilo é um substantivo masculino de etimologia latina, “sigillum”, que significa selo ou segredo. Coloquialmente significa o que não pode ser revelado, para não chegar ao conhecimento ou à vista das pessoas; e na linguagem diplomática, aquilo que é secreto, confidencial, reservado.

Nos bastidores da derrocada URSS, conta-se uma história sobre o último ministro da Justiça de lá, Nikita Kruschev,  participante durante décadas da equipe de Stálin e após a morte dele, denunciou-o com um bombástico “Relatório” no 20º Congresso do Partido Comunista em fevereiro de 1956.

Talvez seja parte do anedotário político ou simplesmente um fuxico dos muitos que ocorriam dentro das muralhas do Kremlin. Diziam que Nikita recebeu certa vez um agente duplo na Guerra Fria e ouviu dele a proposta de entregar-lhe documentos comprometedores em troca de US$ 500 mil e liberdade de viajar para os Estados Unidos.

Conhecido pela sua sovinice, o Ministro pensou numa contra proposta de US$ 250 mil que o proponente, após vasta argumentação, aceitou. Passado um tempo, Nikita  num arremesso final, ofereceu US$ 50 mil e enquanto o antigo espião tagarelava, chamou a segurança e mandou prendê-lo.

Não agiu como inimigo dos sigilos, mas aproveitou-se dos estertores ditatoriais que veio denunciar mais tarde com graves revelações sobre Stálin, abalando a Internacional Comunista.

Os sigilos, como quaisquer proibições só servem para aguçar a curiosidade; proibir um menino de assistir um filme é fazê-lo dar um jeito de procurar vê-lo às escondidas; e na minha pré-adolescência meu pai levou-me à sua estante e apontou uma prateleira dizendo que eu evitasse ler aqueles livros.

Desobedecendo-o, li os clássicos anarquistas, o Manifesto Comunista e a literatura marxista, o “Ecrìti i Dicorse” – obras completas de Mussolini -, o “Mein Kampf” de Hitler, o “Judeu Internacional” de Henry Ford, o “Judeu Sem dinheiro” de Michael Gold, obras do ocultismo maçônico e de religiões comparadas; e o que foi proibido no Brasil, as “Bases do Separatismo” de Alírio Meira Wanderley.

A insinuação proibitiva (ou a malandragem paterna para me incentivar) muito ajudou a minha formação; entretanto, quando se trata de decisões governamentais é inimiga da cidadania; a falta de transparência não tem lugar na administração pública ou na atividade político-partidária. Não se vê nos países civilizados; restringe-se às ditaduras e repúblicas bananas.

O Congresso deveria cuidar de extinguir esta prática que só favorece o crime e o criminoso, mas nossos parlamentares não cuidam de coisas sérias; quanto à Justiça, o mal exemplo vem do STF, escondendo os malfeitos dos togados.

Não há dúvida de que o sigilo é torpe, criminoso e condenável vindo do poder político e jurídico; insistem, porém, os mandatários em usá-lo e impor com a sua autoridade nos fazer reverenciar Hemera, a deusa mitológica da persuasão e da mentira.

Basta! Com exceção do respeito à privacidade, um direito adquirido da cidadania, todo segredo cheira a criminalidade, totem dos populistas Bolsonaro e Lula.

DOS DRAGÕES

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Virou moda na literatura, nos filmes e séries de televisão e o dragão está presente na vida cotidiana, apresentando-se com cores e tamanhos diversos, reptilianos anfíbios ou alados.

Como verbete dicionarizado, Dragão é um substantivo masculino de etimologia grega (drákōn) e latina (draco, -onis), significando um ser fabuloso com representações mitológicas abundantes e variadas.

Nas religiões ocidentais, o Dragão simboliza o mal e as tendências demoníacas, encontrado na Bíblia (Apocalipse 12:17); e o dragão oriental possui o significado de sabedoria, força, poder, proteção e riqueza, usado nas tatuagens corporais.

Há poucas diferenças entre os dragões das mitologias chinesa e japonesa e os de outras mitologias orientais. Os japoneses têm três garras em seus pés ao invés de quatro, como os chineses e coreanos.

Na mitologia greco-romana o dragão protege o Jardim das Hespérides, que guarda o Tosão de Ouro, e no mito germânico de Siegfried possui o tesouro da imortalidade; e na teologia cristã é associado à serpente e simboliza o mal que é vencido por Cristo.

No cinema aparece nos clássicos “Smaug” da trilogia “O Hobbit”, “Banguela” no desenho “Como Treinar o Seu Dragão”, “Draco” em “Coração de Dragão”, e com Harry Porter n’ “O Cálice de Fogo” e nas antológicas séries de tevê “Game of Thrones” e “A Casa do Dragão”.

O Dragão é também configurado no dicionário, numa extensão pejorativa que representa uma pessoa feia e um Indivíduo de má índole, com quem é impossível conviver e respeitar, levando-nos a estender esta última definição para muitos políticos brasileiros.

Entre nós assiste-se uma fantástica luta de dragões num hipotético espaço cênico das lendas indianas como os vemos desenhados no Bhagavad Gita descrevendo os planos diferentes da realidade. Na repulsiva polarização que se impõe no Brasil, a simulada disputa entre Bolsonaro e Lula é o exemplo mais-do-que-perfeito disto.

Dragões do mal, personalizados pelo egocentrismo, a deformação ideológica e o discurso de ódio que identifica os seus estúpidos seguidores. Escamados de populismo e expelindo fogo e fraudes pela boca estes dragões políticos fingem se digladiar, sendo, embora, iguais pelo avesso, cara e coroa da mesma moeda.

Os brasileiros esclarecidos, independentes do fascínio do oportunismo e do culto à personalidade repudiam a esquemática perversão dos cordões azul e encarnado que a imprensa venal incute e encuca nos analfabetos políticos.

Estes dragões da falsa direita e da falsa esquerda são enfrentados nas redes sociais e não é por acaso que se unem para persegui-las, censurando-as e ameaçando os seus críticos. O fingido conflito entre Bolsonaro e Lula visa apenas a alternância entre os dois no poder, sem atender as reais necessidades do País e as reivindicações nacionais.

Tal encenação deve ser combatida sem trégua. Lutar contra a nefasta polarização exige vislumbrar o radiante alerta que nos trouxe profeticamente o escritor José Saramago dizendo que “a única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas, não serve de nada…”

 

 

 

 

DAS REPÚBLICAS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Cheguei em NYC no dia em que os EUA comemoram o Independence Day, com muita festa onde afrodescendentes, asiáticos e latinos participam mais intensamente (ao que me pareceu) do que os próprios norte-americanos. Vê-se aqui, como no mundo afora, uma das três formas de República que são a presidencialista, semipresidencialista ou parlamentarista.

É a herança das cidades-estados da Grécia, que a adotaram como forma de governo entre os séculos 4 e 5 a.C.. Na concepção que temos hoje, este sistema se confunde com a Democracia em Atenas onde o homem era considerado cidadão aos 18 anos, nascido em Atenas de pais atenienses.

Naquela República Democrática, a organização social convocava uma Assembleia Popular (Ekklesia) que elegia e fiscalizava um conselho (Boulé) responsável pela administração governamental e os magistrados, que interpretavam as leis e julgavam conflitos.

Os tribunais mantinham um sistema de júris populares formado por cidadãos indicados por sorteio público, para garantir que a justiça fosse administrada de forma imparcial e sem influências externas.

Como verbete dicionarizado, República é um substantivo feminino de etimologia grega “ʀɛˈpublikɐ” e latina “Res Publica” ambas significando “coisa pública” e definindo um sistema de governo dependendo da existência de uma nação, com cidadãos políticos “communio” e um consenso do direito (consensus iuris).

Na teoria, é o governo do interesse de um povo, onde o povo é a soberania de forma direta, “plebiscito”, ou por intermédio de delegados eleitos com um mandato temporal; é o que temos teoricamente, embora divorciado da prática.

Da antiga Grécia até os dias de hoje, tivemos idealisticamente Repúblicas imaginadas por filósofos como Cícero, Campanella, Morus, Platão, Swift e Voltaire.

De Cícero a proposta de uma forma de governo denominada “consilium”, nascida do consenso jurídico e utilidade comum a todos; devendo ser exercido por uma só pessoa, ou a alguns escolhidos, ou ser assumido pela multidão.

Do dominicano Tommaso Campanella, a proposta de uma República Ideal, cidade do Sol (La Cittá de Sole) refletindo uma formação democrática; de Thomas Morus, também um humanista cristão herdamos a Ilha da Utopia, ou simplesmente Utopia, governada pela razão tendo como objetivo contrastar com a realidade conflituosa da política europeia na época.

A mais conhecida de todas é a República de Platão, filósofo grego que defendia o equilíbrio social com um governo em que todas as peças da sociedade deveriam estar perfeitamente encaixadas no lugar certo. Singular e curiosa é a proposta do escritor irlandês, Jonathan Swift, “As Viagens de Gulliver” livro publicado no Brasil com o prefácio de Ruy Barbosa; oferece uma reflexão sobre justiça social com respeito às diferenças de classe.

Do filósofo neolatino mais famoso (e polêmico) do Iluminismo, Voltaire, temos uma reflexão sobre um governo onde vigore a liberdade de expressar ideias, sem interferências de cunho moral, político ou religioso. Proposta que critica o absolutismo dos reis e as instituições políticas e religiosas.

O regime republicano no Brasil é a forma de governo desde 15 de novembro de 1889, proclamada por José do Patrocínio na Câmara Municipal do Rio de Janeiro; adotou-se o presidencialismo, isto é, o Chefe de Governo é escolhido através de eleições diretas.

Apareceram ultimamente na Pindorama umas esquisitas propostas nascidas de ideologias corrompidas, ridicularizadas pelas nações civilizadas e nos transformando numa República das Bananas. É de Lula da Silva a ideia de uma “república democrática relativa” tendo como exemplo a ditadura Maduro e vem da presidente do PT, a adjetivação de uma “república democrática efetiva”, que encontrou na China. Do antagonista “de direita”, o ex-capitão Bolsonaro, o sonho de um golpe que instituiria uma “República Militarizada”.

Todas estas três insanidades, frutos do extremismo, são uma forma de tirania e despotismo, contra as quais combatemos.