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Artigo publicado n’ O Jornal de Hoje (Natal,RN)

Lula teria sido mesmo um contestador?

MIRANDA SÁ, jornalista (mirandasa@uol.com.br)

Há uma tese que diz que Lula nunca foi um autêntico resistente à ditadura. Uma notícia, abafada convenientemente, chamou-me atenção há anos atrás, a ida de dirigentes sindicais à Alemanha, com farras subsidiadas por grandes empresas.

Entre estes gozadores foi citado o torneiro mecânico Lula da Silva, testa de ferro da fração do partidão no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Ele era um agente duplo: servia como pelego à Volkswagen e era parceiro dos comunistas e católicos que resistiam ao regime militar.

Essa história, que deve ser esclarecida, ressurge graças a uma infeliz coincidência ocorrida na ida de Lula a Cuba. Um dia antes da visitação especial do presidente do Brasil à ilha caribenha, morreu numa greve de fome às últimas conseqüências o dissidente do regime dos Castro, o encanador Orlando Zapata Tamayo.

Tamayo estava preso sob acusação de desobediência. Como se sabe, e o pesquisador Nik Steinberg comentou semana passada no Estadão, “pela lei de “periculosidade” de Cuba, quem não cometeu nenhum crime pode ser preso sob a suspeita de que poderia cometê-lo no futuro”.

As atividades “perigosas” incluem a tentativa de criar um sindicato independente. E tal legislação totalitária é contestada pela Anistia Internacional, que considerou Orlando Zapata Tamayo enclausurado desde 2004 por “desobediência”, um “preso de consciência”.

Mesmo tendo conhecimento destes fatos, o ex-torneiro mecânico Lula calou-se sem esboçar qualquer reação humanista em favor do trabalhador cubano. Depois, fez pior, ao defender a ditadura cubana – porque ditadura é sempre ditadura, seja de direita ou de esquerda – e comparou os presos políticos cubanos com bandidos comuns.

Esta declaração espontânea não é gratuita. Faz parte do contexto ideológico dos vermes que revolvem o cadáver do antigo PT, e está infiltrado no governo federal, dominando entre outros órgãos, o Itamarati. O chanceler Celso Amorim, títere do comissário petista Marco Aurélio Garcia, disse cinicamente que “presidente Lula não deve apoio a ‘tudo que é dissidente’ no mundo”

Esta atitude é a de todos os hierarcas da República Sindicalista. A pelegagem no poder mostra, evidentemente, que não sofreu a repressão dos anos de chumbo, senão teria a obrigação de se solidarizar com presos de consciência de qualquer ditadura.

O deputado ultra-direitista Jair Bolsonaro fez uma colocação inteligente ao dizer que comparando presos políticos com criminosos comuns, Lula justificou as prisões da ditadura militar, porque sabia que seus parceiros eram bandidos…

Diante dos protestos gerais, a claque lulo-petista tem vergonha de se manifestar, principalmente depois que a União Européia, pela quase unanimidade do parlamento, lamentou a morte do dissidente cubano e condenou as prisões políticas em Cuba. Também a Anistia Internacional passou a exigir a libertação de todos os 54 presos de consciência sob o regime castrista.

Será que este justo isolamento da comunidade internacional ajudará Lula a conquistar o secretariado da ONU, como deseja? Ou, pelo menos, dará uma cadeira permanente no Conselho de Segurança? Esse comportamento está longe de uma liderança mundial e desqualifica o Brasil no concerto das nações.

Para os esquerdistas de botequim, é bonitinho retaliar comercialmente os EUA, criticar a Grã Bretanha pelo domínio das Ilhas Malvinas e ajudar ditadores subdesenvolvidos; mas nem mesmo os festivos sectários do saudosismo stalinista serão capazes de comparar um preso de consciência com um bandido.

Miranda Sá

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