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DAS PROFISSÕES

MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)

Quando as hordas primitivas de caçadores e coletores se fixaram à terra, plantando e domesticando animais, criaram a necessidade de surgir comunitariamente profissões especializadas para servir à coletividade.

Apareceram então carregadores(as), carniceiro(as), tecelões(lãs), cozinheiros(as) curadores(as), pastores(as), pedreiros, semeadores(as) e soldados. Quando a evolução dos clãs e tribos atingiram sociedades estruturadas com mandatários, surgiram novas atividades definindo melhor as ocupações, costureiras, construtores, barbeiros, marceneiros e metalúrgicos….

A religião presente desde os temores noturnos, os sonhos, as superstições diante dos fenômenos climatéricos e a observação dos astros, manteve intérpretes, xamãs, pagés, sacerdotes com várias denominações.

Por fim, a Nação e o Império burocratizados exigiram reis, ministros, juízes, hierarquia militar, policiais e funcionários em geral. No centro de todas movimentações administrativas, advogados, escrivães, contadores, tesoureiros e políticos.

Todas as atividades estatais e governamentais se profissionalizaram, exceto o político, atuando individualmente um “free lancer” sedutor pela oratória e, mais tarde, com o manobrismo partidário influenciando eleitores.

Isto a História Mundial registra. O “Político” como verbete dicionarizado enquadra-se em duas classes, pode ser substantivo, indiferente de gênero, significando a pessoa responsável pela ordem social representando o povo; e/ou um adjetivo, indicando ou se referindo ao que diz respeito à política.

No Brasil pode até se obedecer à classificação gramatical, mas quando se trata das personalidades o político é um indivíduo que goza privilégios incríveis. Tornou-se profissional, aposentando-se com regalias; recebe vantagens corporativas das férias e viagens, e conta com um foro privilegiado.

Para exercer esta “profissão” não precisa de estudo nem qualquer qualificação. Não se pode negar que existem políticos por vocação; mas a imensa maioria deles busca apenas profissionalizar-se como artífice da obtenção de vantagens pessoais ou grupistas.

Aquela definição clássica da “arte de governar” – passa longe dos políticos brasileiros -; não vemos princípios nem ideologia entre eles. São governistas com o objetivo de se locupletar ou são oposicionistas por serem derrotados em eleições perdendo cargos e vantagens competitivas nas suas bases eleitorais.

Olhando pelo ângulo da Filosofia Política, vemos a desfiguração da política por culpa dos próprios políticos e, levando em conta a Ciência Política, assistimos há formação de bolhas desvinculadas da realidade.

Li a tempos atrás uma curiosa alegoria que ligo hoje aos nossos parlamentares, vereadores, deputados e senadores, com raríssimas e distinguidas exceções; é a definição do que é um político feita por Arthur Balfour, estadista conservador britânico que foi Primeiro-Ministro do Reino Unido de 1902 a 1905; ele era um crítico acerbo dos círculos do poder nos Estados Unidos e fantasiou a formação dos políticos lá.

Vendo o comportamento individualista dos parlamentares ianques, satirizou-os com uma anedota sobre a formação deles no “way of life” vigente em Washington.

Criou um personagem de ficção, um rico pai americano, preocupado com o futuro do filho, que resolveu testar o seu oferecendo sugestões que o ajudasse a se definir.

Trancou-o no quarto, deixando lá uma Bíblia, uma maçã e um cheque, pensando: ‘se o encontrar lendo a Bíblia, o estimularei a tornar-se pastor; se ele admirar a maçã, lhe darei uma fazenda para que se torne um agricultor; se estiver examinando o cheque farei dele um bancário’.

Ao fim do tempo suficiente para ver o resultado da experiência, o ricaço adentrou no quarto e viu que o rapaz embolsara o cheque e comia a maçã sentado na Bíblia. Então, o fez político.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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