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DOS SONHOS

MIRANDA SÁ (Email: mirandasa@uol.com.br)

Reconhecido como um dos pilares da cultura mundial, o filósofo grego Aristóteles desenvolveu várias teses no campo do conhecimento da sua época; com ele, a Filosofia foi definida como “amor à sabedoria”, a Ciência das ciências.

Aristóteles considerou que o aprendizado da infância e juventude deveria se basear na imitação tendo como exemplo os adultos, somando-se à observação das coisas ao seu redor. Para ele, “nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos”.

Uma passagem curiosa do ensino aristotélico foi sua reprimenda aos escolásticos, dizendo que eles eram como aranhas, tecendo teias com fios que saíam das próprias cabeças sem consideração com a realidade.

Hoje, passados dois mil e quinhentos anos, os “especialistas em tudo” da informação televisiva fazem a mesma coisa, expandindo pela telinha da tevê conceitos extraídos dos interesses das empresas em que trabalham pouco ligando para a conjuntura.

São analistas da bolha em que vivem sem ter a mostram de ser independentes e adotar a razão de ser e de haver. Fogem do “sono da Razão que produz monstros”, que o pintor, gravador e filósofo Francisco Goya citou, referindo-se aos quadros que pintava retratando os horrores da guerra.

Do sono que produz monstros, apelamos para a interpretação dos sonhos de Freud, que os considerou produtos de perturbações que levam à realização onírica de desejos inconscientes.

Em confronto com esta visão freudiana, o crítico do politicamente correto, o filósofo esloveno Slavoj Zizek, concebeu críticas, dizendo que sonhar significa fantasiar para evitar o enfrentamento com o real, mesmo aceitando o princípio de que “o sonho é um exemplo privilegiado de um processo primário produzido pela diminuição das necessidades físicas e o desligamento do exterior”.

Esta dedução é uma das armas que a psicanálise freudiana ensina que para entender o inconsciente, para analisar os sentimentos, as emoções e mesmo os pensamentos íntimos de cada um; e nada melhor do que os sonhos para desvendar os seus significados.

Nossa modernidade encontrou no cinema diversas exposições sobre a perspectiva dos sonhos, como temos num dos filmes pioneiros do tema – “Spellbound” (Quando Fala o Coração) -, rodado sob a direção de Hitchcock em 1945. No seu roteiro, mostra a amnésia e o uso da psicanálise para estudar a guarda de um segredo. O famoso sonho no filme foi desenhado por Salvador Dalí, refletindo a influência do surrealismo.

O pastor da Igreja Batista no Alabama, imolado pela intolerância racista nos Estados Unidos, usou na sua retórica discursiva o sonho para defender a união e a coexistência harmoniosa entre negros e brancos no futuro do seu país.

Os brasileiros também sonham em ver a Pátria quebrar as algemas das desilusões, da demagogia, das mentiras e das promessas vãs que a politicagem reinante imprime. Nós sonhamos em ampliar o protesto efetivo dos mais de 30% do eleitorado que votou em branco, anulou o voto ou se absteve de votar.

Isto surpreendeu o TSE, que vive na escuridão das abstratas interpretações pessoais dos seus componentes, sem reconhecer o desejo de libertação dos brasileiros que assistem os direitos constitucionais cederem lugar à formação ideológica dos juízes togados; e assim, para eles assistirem, levamos ao palco do pensamento o clássico dos clássicos, Hamlet, de Shakespeare:

“Morrer — dormir; dormir, talvez sonhar — eis o problema: pois os sonhos que vierem nesse sono de morte, uma vez livres deste invólucro mortal, fazem cismar. Esse é o motivo que prolonga a desdita desta vida”.

O Dramaturgo insiste, com o seu Macbeth que o sonho é o principal alimento no banquete da vida; e, da minha parte – e muitos pensam como eu –, diante da infame formação jurídica e política que temos, achamos que o sonho é uma doce sobremesa na mesa frugal da Esperança.

Marjorie Salu

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Marjorie Salu

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