Das frases que seleciono para levar as cabeças pensantes à reflexão, publiquei uma de Lima Barreto, escritor da minha estima: “O Brasil não tem povo, tem público. Povo luta por seus direitos, público só assiste de camarote”. Esta original conclusão foi retuitada dezenas de vezes, obrigando-me a comentá-la.
Como entendo, a diferença é abismal. O que o público quer é festa, e não é por acaso que 50% das verbas municipais bancam para satisfazê-lo. A festança começa nas campanhas eleitorais nos comícios, banda de música ou trio elétrico, fogos de artifício e a colorida demagogia discursada nos palanques.
O povo, ao contrário, define-se como sistema de organização política da massa, e com ou sem folguedos carnavalescos, participa da política discutindo, reivindicando, enfim, lutando, enquanto o púbico se diverte….
O público, quando fatiado, repete individualmente “O que é que eu tenho com isto?”, e veste a camisa do analfabeto político tão bem descrito por Brecht; alheia-se à realidade, sem ouvir, sem falar, e vê divertidamente os acontecimentos políticos. É o indivíduo a quem pouco importa o custo de vida, o preço do feijão, da carne, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio, ignorando que tudo isto depende de decisões políticas.
“O que é que eu tenho com isto?”, dói nos ouvidos da cidadania e revolta os espíritos humanistas; aquele que assim se expressa é responsável pelo analfabetismo, a fome e a insegurança. Quem profere esta pergunta, além de néscio e antissocial, é cúmplice da corrupção política e do crime organizado.
Um psiquiatra meu amigo disse-me que é um reflexo automático e involuntário dos estúpidos; são pessoas que não entendem o simbolismo das atitudes, dos gestos e do comportamento; que não possuem defesas orgânicas e neuronais, são inoculadas facilmente pelo vírus do fanatismo e erguem altares para ídolos políticos.
São herdeiros daqueles que cultuaram Hitler, Mussolini e Stálin, aos quais dedicaram obediência ampla e irrestrita. Não enxergam que os políticos são seres humanos que ao assumirem o poder mostram-se egocêntricos e egoístas envoltos pelo desejo da vitaliciedade do domínio.
É isto o que vemos, infelizmente. A maioria dos políticos põe o interesse pessoal ou grupista acima dos princípios éticos e morais, incentivando a modelagem das suas próprias estátuas. A eles pouco importa a distinção de público e povo confundindo-os do alto dos palanques. (Alguns permanentes por todo um mandato).
O público emprenha pelos ouvidos da demagogia barata e se enche de convicção, servindo com servilismo ao chefe para o que der e vier. Foi o que assistimos na cena da depredação vandálica em Brasília a oito de janeiro do ano passado.
Bolsonaro, aquele que os incentivou durante largo tempo com recursos eficientes de propaganda, abandonou-os e se exime de culpabilidade. Terceirizou as responsabilidades como é norma dos “líderes populistas’.
Do outro lado, vê-se Lula voltar ao local da desenfreada corrupção, a Refinaria Abreu e Lima, caloteada pelo amigo ditador Chávez e posta à disposição de corruptos e corruptores como a Lava Jato mostrou. O trem desenfreado da corrupção vai de volta ao passado criminoso e o seu ruído desperta as pessoas honestas deste País.
Lula, “populista de esquerda”, impune da roubalheira que praticou e foi condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro em três instâncias, foi descondenado sem-cerimônia pelos cúmplices togados do STF.
Bolsonaro, o “populista de direita”, prepara novo assalto ao poder, conspirando e induzindo os seus asseclas a atacar o Exército que repudiou sua tentativa de golpe.
Nos trilhos da História, Bolso e Lula veem reduzir o seu público de fanáticos e mercenários no entorno palaciano, o público dos cercadinhos. O povo fica à parte, mostrando-se consciente dos males do populismo demagógico e desperta para a terceira via que nos livrará da desgraçada polarização.
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